domingo, 23 de novembro de 2008

Rotina de fábrica - O Homem Invisível

Outro dia tava conversando com um colega de trabalho no horário de almoço. Ele me comentou de uma pesquisa de um professor da USP sociólogo, ou antropólogo, ou sabe lá o que (desculpem minha "inguinorança" pessoal das Ciências Sociais). O cara se disfarçou de faxineiro e trabalhou ns dependências do campus durante sua pesquisa de campo. Depois ele escreveu um artigo denominado "O Homem Invisível". Alguém aí tem a curiosidade de saber o por quê?

Enquanto o professor estava vestido de faxineiro poucos, mas muito poucos do seu círculo social (alunos, colegas, etc) , o reconheceu. Parece que ser faxineiro e ser nada é a mesma coisa. O artigo se chama "O Homem Invisível" justamente porque essas pessoas simples que fazem parte do nosso dia a dia parecem não ter rosto nem corpo. Parecem meros robôs no meio da multidão. Quantas vezes acontece do carinha estar lá passando pano e você vai lá e pisa com seu tênis cheio de lama no chão que ele acabou de limpar? Percebi o quanto eu mesma tomava esse tipo de atitude em relação aos peões da linha de produção, cozinheiros e serviçais do restaurante da fábrica, faxineiros que limpavam os banheiros. Na semana passada fiz uma "pesquisa de campo reversa" à do professor.

Nível 1- Reparar no rosto da pessoa.
Nível 2- Chamar a pessoa pelo nome. Isso é fácil na empresa porque todo mundo usa crachá.
Nível 3- Ouvir a história de vida do cidadão.

Os resultados foram surpreendentes ! No restaurante, na hora do café da manhã, olhei pra uma baixinha que limpava a minha mesa e recolhia os miolos de pão que o povo porco tinha deixado ali em cima. Somente olhei pro seu rosto e disse um simples "muito obrigada". Ela abriu um sorriso daqueles e me perguntou "a senhora quer que eu passe um pano aí no seu lugar?".Nossa, um simples "muito obrigada" surtiu um efeito incrível, a mulher se esforçando pra me agradar...Conquistei alguém sem muito esforço. Depois foi com o mocinho da xerox...passei a cumprimenta-lo todo dia pelo nome. Ele passou a fazer encomendas expressas de xerox para Madame Mariana. Incrível. O útimo nível foi com as faxineiras do banheiro.Pude constatar o quanto o SUS é uma droga. Uma mocinha me contou que deu à luz no corredor do hospital depois de 12 horas de trabalho de parto. O médico não tava nem aí pro sofrimento dela e a enfermeira ainda bravejava "é né...pra fazer filho foi gostoso...agora aguenta!". É, de partir o coração mesmo.

É...não tenho pretensões de ser a Madre Teresa de Calcutá, mas essa experiência mudou muito meus conceitos. Acho que se a gente prestar um pouco mais de atenção nos outros, conseguimos cativar mais pessoas. É tão simples...não requer dinheiro, talvez um pouquinho do nosso tempo, mas vale a pena. E palavrinhas tão simples também fazem milagres...Tipo...por favor....muito obrigada...com licença...Foi uma experiência inesquecível.

sábado, 15 de novembro de 2008

Para o Vô


Oi Vô!

Não sei quanto tempo você ainda ficará conosco.
Sei que tem pessoas que até se arrepiam de falar nesse assunto. Esse assunto não é comentado nem a pau. Mas la veritè taí...Um dia a mais ou a menos, fatalmente isso vai acontecer. E dessa vez estarei preparada. O diagnóstico do câncer me fez acender a luzinha para as coisas que realmente importam.
Acho que nunca é tarde para dizer o quanto te amo. O quanto o senhor é importante para mim, o quanto a sua casa foi o meu porto seguro. Vou ficar satisfeita se tiver pelo menos a metade da plenitude que foi a sua vida até agora. E quero aproveitar ao máximo agora o fiozinho de vida que ainda te resta.

O vô mais louco que eu já tive. Que caçava perdizes e criava uma cachorrada do mal. Que se divertia colocando latinhas de skol em cima do muro do quintal e dava um revolver 22 pra uma menina de 9 anos atirar. Que se divertia em ver coisa errada. Que passava os fins de semana dando uma de mestre cuca e que cozinhava também as ceias de Natal. Que me mimava me entupindo de bombom garoto e....tchan tchan...BALAS CHITA! Perdi a conta das vezes em que me desdobrava de dor de barriga por causa da bala chita. E tinha que ser sabor abacaxi, tá ! A de uva era ruim que só.

A cachorrada era algo a parte...Lembro quando o Rambo, aquele vira lata malhado de preto e branco, chegou na sua casa. Você dizia "Ah é só pras crianças verem, depois eu devolvo o filhotinho". Ah tá bom. As "crianças" ficaram vendo o cachorro ali por 18 anos. Cachorro matusalém.

Olhando pra trás, só tenho a agradecer por esse bando de traquinagens geradas pelo seu espírito de porco. Você me estragou total. Mas que deixou minha infância mais feliz, ah isso deixou. E pode ficar tranquilo. Os seus genes de espírito de porco foram devidamente transmitidos. Essa criatura que aqui escreve é uma porra louca igualzinha ao senhor...
Te adoro demais e sempre vou torcer por você!

domingo, 9 de novembro de 2008

Firmando uma marca - linhas de estilo

Bom, não é porque me decepcionei com o Salão do Automóvel que não vou deixar de aproveitar alguma coisa do que fiz por lá...

Na concepção de um veículo, tentamos sempre atender aos desejos do consumidor.Ninguém aqui quer fazer um veículo com baixa aceitação no mercado...Pelo que tenho visto por aí, as montadoras estão bem niveladas em termos de mecânica e recursos tecnológicos, já não tem aquela discrepância técnica entre um VW, Fiat, Ford, GM... Como então seduzir o consumidor atualmente? É aí que entra o design, é encher os olhos do consumidor, é fisgar pela estética. Aquela máxima de que a primeira impressão é aque fica é muito verdadeira. Ao fazermos uma compra, nosso lado emocional e o inconsciente pesa muito na hora da decisão. E é exatamente esse impulso emocional que faz você liberar endorfinas e sentir aquele prazer em adquirir certo objeto. O design serve exatamente para despertar emoção no consumidor.

Além da estética, um dos motivos que também leva um consumidor a adquirir um certo produto é a fidelidade à marca. Isso é reforçado nas empresas através de uma identificação da marca, um logotipo forte, e características peculiares nos produtos de determinada marca. O design também entra nessa jogada. Todas as montadoras possuem uma diretriz de estilo nas linhas de cada veículo que é lançado, criando um "design" característico de cada montadora. Cada veículo possui suas características próprias, porém existem certas linhas de estilo que são comuns com todos os outros veículos da mesma montadora. Isso é uma maneira de firmar a marca no mercado. Poucos percebem essas sutilezas, mas elas funcionam e ficam ali no nosso sub consciente.

Para vocês entenderem legal o que estou tentando explicar,vou usar umas fotos de dianteiras de veículos da Volkswagen que tirei durante o salão do automóvel. Achei muito interessante quando vi essas fotos lado ao lado, dá para reparar bem as linhas agressivas em "V" nas dianteiras que caracteriza um veículo Volkswagen. O problema da Volkswagen é que ela anda abusando muito do recurso de ctrl + c e ctrl + v em termos de design. Aliás, não só em termos de design, como em outros aspectos também. É irritante receber como ordem do dia utilizar o recurso de "carry over" para baratear os custos de produção.

Lançaram a perua Jetta a um tempo atrás...A impressão que ficou em mim era que se tratava de um maxi Space Fox. O Pólo Hatch atual parece um maxi Gol G4. E o Pólo Sedan é um Passat em miniatura. Calma, estou falando em termos de design, ninguém aqui quer comparar o motorzão do Passat com do Pólo Sedan!!! Assim estou propondo uma pequena brincadeira...Nas fotos publicadas vocês conseguem identificar quem é quem? Associem a foto com o respectivo modelo...Dou um doce para quem acertar tudo. Atenção!!!! Cada foto é um veículo diferente!!! O ctrl + c e ctrl + v é por conta da Volks, não minha.

a) Cross Fox
b) Perua Jetta
c) Novo Voyage
d) Saveiro
e) Passat
f) Tiguan
g) Fox












sábado, 8 de novembro de 2008

Madame Engenheira @ salão do automóvel

Ganhei o direito de ir de graça para o Salão do Automóvel por trabalhar numa montadorazinha alemã aí...Que glória! Com ingresso custando 30 reais e dura pra caramba, era quase impossível frequentar um evento desse nível nos meus tempos de estudante. Já tinha frequentado feiras e mais feiras de autopeças, de fundição, de equipamentos mecânicos e o diabo a quatro, já tinha visto todo o tipo de picaretagem e baixaria. Putz...finalmente ia pra um lugar alto nível! Ia ver novidades, carros-conceito e toda aquela gama de coisas que não estou acostumada a ver no meu dia a dia na engenharia de desenvolvimento.Catei minha mochilinha e rumei pro Anhembi.

Foi meio decepcionante. Tudo que vi ali, podia ver em qualquer concessionária das respectivas marcas. Carro conceito era...conceito mesmo...porque não vi quase nenhum. Tá certo que nada nesse mundo sai de graça, tudo rola em torno do dinheiro, bussiness. Mas eu esperava ver um pouquinho ds maravilhas da engenharia em termos de novidades mesmo, coisa que nem foi lançada mesmo e não um showroom explícito das montadoras com o intuito de mostrar ao consumidor os produtos e claro, vender. Eu, trabalhando com engenharia de desenvolvimento, não vi nada que não tinha visto. Nada fora do senso comum. Nenhuma tendência a ser seguida. Tudo puramente comercial !

Pelo menos nas feiras da fundição e de mecânica era mais engraçado. Era mimada com uma porrada de brindes. O kit básico de um estande era chopp com amendoim na época de estudante, e, com a evolução fui ganhando champagne francês com queijo suíço. Rachava o bico de ver os marmanjos cheios de testosterona pagarem um pau pras modelos peitudas dos estandes. Via a baixaria correndo solta, com show da camiseta molhada e o povo gorfando pelos corredores. Era um zé povinho mesmo, gente muito simples, que estava ali se divertindo e sublimando as dores da vida com o pretexto de "ir a um evento de negócios". Perfeito. Ok.

No tal do salão vi as mesmas coisas. As marias peitudas. O povinho simples de sempre. Só que não ganhei nem um copo de água de estande nenhum. Que lástima! Ainda passei um calor do cão, porque no Anhembi não tem ar condicionado. Não conseguia nem ver os carros direito porque o ambiente tava muito lotado. Nem babar pelos carrões dava. O estande da Ferrari tava todo fechado, não dava pra você sentir a emoção de se sentar em um legítimo vermelhão. Tem uma concessionária da Ferrari perto de casa aqui em SP. Lá pelo menos vou conseguir fazer isso com tranquilidade. E ainda ganhar um copo de água. E...quem sabe...se conseguir fazer um bom teatro, me atrever a fazer um test drive num carrão daqueles.