domingo, 20 de setembro de 2009

Comprando carro em lançamento


Quando há o lançamento de um carro novo por uma montadora, tem aquele estardalhaço de marketing e os preços sempre tendendo ao limite estratosférico. É incrível como funciona essa nossa cultura consumista! Sempre instigando em nossa mente a idéia de que o que temos nunca é bom, nunca é o suficiente...Se temos um objeto XY recém lançado vai aparecer uma propaganda de um XYZ com mais uns n recursos que não prestam pra porra nenhuma (eu pelo menos acho!). No mercado automotivo o raciocínio é o mesmo. O cara sempre tem que ter um carro último modelo pra ser bacana e se dar bem com a mulherada. Mas será que sempre vale a pena perseguir o último lançamento???

Vou lançar agora a sementinha do mal! Sabe quando vou comprar carro recém lançado???? NUNCA! Sempre vou procurar um carro que esteja no meio do seu ciclo de vida, porque também carro prestes a sair de linha é mico. Não tenho essa preferência por motivos altruístas e anti consumistas, como muitos podem pensar ao ler o primeiro parágrafo desse post, e sim por motivos técnicos mesmo. A verdadeira razão vem do meu trabalho na indústria automotiva...Veículos em lançamento, por mais que tenham sido testados, sempre, mas sempre apresentam algumas falhas de projeto ou de processo que somente se consegue detectar após o início da produção. Isso porque antes da produção trabalhamos somente com protótipos, e por mais que sejamos cautelosos na sua construção, não é uma representação 100% real daquilo que irá sair da linha de produção. Por isso a facilidade com que alguns erros passem despercebidos aos olhos. Algumas falhas também só irão aparecer com o uso contínuo do veículo, assim impossíveis de serem detectadas na fase de prototipagem.

Tudo isso eu falo com a minha (pouca!) experiência e vivência nesse mundo automotivo. Gastei muito mais horas de trabalho corrigindo falhas de projeto e fazendo ajustes em veículos já lançados do que trabalhando em coisas novas. Isso faz parte e realmente não me incomodava. Vocês podem estar pensando: mas quanta gente incompetente trabalhando em montadora pra dar esse monte de merda !!! Em parte isso é verdade, tem mais gente incompetente nesse mundo do que pessoas boas de serviço. E tem muito incompetente que sobe de cargo facilmente por manjar da arte do puxa-saquismo. Mas não vou me adentrar mais nesse assunto político. Vamos assumir agora a situação utópica que toda a equipe de projeto é formada nas melhores faculdades, todos tem MBA e todos já foram destaque de funcionário do mês. Mesmo nessa situação não se está imune à erros...Primeiro porque estamos falando de seres humanos, e ninguém aqui como ser humano é infalível, por mais que existam os deuses da engenharia que pensem o contrário. E segundo porque existe uma coisa chamada Estatística, que está devidamente inserida na Teoria da Confiabilidade. E é a confiabilidade que a gente usa pra prever a durabilidade de uma peça ou mesmo calcular a sua probabilidade de falha. Sim, é essa a palavra chave: probabilidade.

A única certeza que tenho é que um dia vou morrer, de resto não se dá para ter certeza de mais nada. O resto são somente estimativas e quando falamos em estimativas estamos falando na probabilidade de um determinado evento ocorrer. A gente formula uma hipótese, por exemplo, "a suspensão não vai quebrar se submetida a uma carga x". Isso não é uma certeza absoluta, mas se testarmos essa hipótese e constatarmos que há 98% de chances da suspensão não quebrar com a carga X, podemos considerar isso como verdadeiro. Mas corremos o risco de 2% de não ser verdadeiro e mais pra frente der algum problema. Ainda que esse risco seja baixo, ele existe. E acontece mesmo dele se manifestar mais pra frente. Infelizmente isso é inevitável, e sabíamos que corríamos risco. Mas se não assumíssemos o risco, nunca que o veículo seria lançado. Todos os dias durante as discussões de projetos de peças novas nosso lado "macho alfa" era posto em conflito com os "fatores cagaço". Os riscos sempre são calculados e somente assumíamos quando tinhamos certeza que o mesmo era baixo.

Bom, é isso. Já falei trezentas mil vezes para os meus amigos que carro em lançamento sempre virá com alguma caca. E que as cacas podem vir de processos que não temos como controlar antes... Mas enfim, meus avisos sempre foram em vão, porque os caras sempre vão desejar o carrão do ano. Ah, tudo bem! Como sempre gosto de finalizar meus posts ácidos, vocês garantiram meu emprego por 4 anos, financiaram minha viagem pro Peru, minhas maquiagens da Lancôme, e minha bike.

2 comentários:

Fábio "Sbó" Ardito disse...

Bom... e isso tudo considerando que um carro novo é, de fato, um projeto novo. Pq se vc for olhar pro Vectra por exemplo, vai ver que é praticamente um Monza. Só muda o preço, e na maioria das vezes vc ta comprando o mesmo modelo defasado pelo triplo do preço.
E falando em preço, dá uma olhada no mercado de veículos quase-0km... É possível comprar carro que nem fez a primeira troca de óleo ainda por 70 oun 80% do preço de um carro zero. E é fácil de achar.

Mary disse...

Cara, o Vectra É um Monza. O podre da GM é fazer carcaças novinhas em folha com recheios já bem passadinhos. O motor do Vectra é o mesmíssimo do Monza...Verdade! Juro!

Quanto ao mercado de semi novos, certíssima a observação! Só tem que ter um olho clínico pra achar essas preciosidades, mas dá pra achar.