sábado, 11 de outubro de 2008

Para o Bé

Acredito que existe alguma razão para as pessoas passarem pela nossa vida, nem que seja por um curto período de tempo. A gente pode não entender o porquê de algumas pessoas partirem tão cedo, mas que tem alguma explicação, isso tem. E é acreditando nesse fato que me dá forças para superar uma perda tão difícil.

Nossa cultura não ensina as pessoas a lidar ou conviver com a morte. Há um culto exagerado à juventude, o que nos faz acreditar que somos invencíveis. De uns anos pra cá o assunto morte tem cada vez sido empurrado para debaixo do tapete. As pessoas morrem na assepcia dos hospitais, sozinhas, sem a presença dos entes queridos. Ninguém fala, ninguém comenta, ninguém vê. A gente não acredita que essas coisas podem acontecer conosco, de pessoas tão próximas partirem. Mas acontecem.

Foi assim que me senti quando recebi a bomba, foi um baque daqueles. Um acidente de carro na via Dutra.Parecia algo surreal ! Um garotão de 25 anos que fez parte da minha vida, que frequentava a minha casa, com quem tive um relacionamento muito bacana simplesmente...partiu...Por mais que já estivessemos separados, existia a possibilidade de pegar o telefone e dar um alô, como vai, e a vida ? Cair a ficha que isso nunca mais seria possível demorou. Que eu não iria mais ouvir aquela matraca falando alucinadamente, ou tocar aqueles cabelos macios que raspados na nuca lembravam o toque de um urso de pelúcia. Que eu não iria mais passar trotes para a cia de infantaria me identificando como professora de ballet. Que as gozações terminaram. Existiam alguns ressentimentos para ser acertados entre nós e algumas dívidas financeiras (ele me devia 5 reais de um milk shake de ovomaltine kkkkkkk). A parte financeira, bem deixa pra lá. Desse mundo carnal ninguém leva nada. E os ressentimentos vão ter que ser acertados somente comigo e mais ninguém.

Por acreditar que a partida dele foi por ele ter cumprido sua missão, já não me revolto mais contra a justiça ou injustiça divina. Foi, foi, ponto final. Não entro mais nesse âmbito. O que dói agora é a saudade. As lembranças. Elas me acompanham aonde quer que eu vá. Um lugar que frequentávamos...uma frase de efeito...uma roupa especial de alguma ocasião especial. Dói tanto, machuca muito meu coração. Isso só o tempo mesmo para se encarregar de curar as feridas.

Prestei o concurso para oficial da Marinha hoje e uma coisa ficou na minha mente...Faltava 3 meses para ele se formar quando ele morreu. Ele era o tipo do cara vibrão, que gritava Infantaria! Selva! pra qualquer vira lata que passasse na rua. Era irritante o quanto ele enchia o meu saco para eu ser militar como ele. Aliás eu morria de vergonha quando ele se excedia cantando musiquinha da Infantaria pelas ruas. Pois bem...Acho que o cretino vai ficar feliz lá em cima se pelo menos um de nós tiver a chance de envergar uma espada de oficial atada à cintura.

Selva, Abel !

:)

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