quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Eu, Mariana P, 27 anos e viciada em calculadoras

No prézinho e no primário ela era proibida. Falavam que ela prejudicava o ensino da matemática. E era verdade mesmo, pois todo o trabalho de fazer continhas de somar, subtrair, multiplicar e dividir era feito por essa máquina. Ela literalmente resolvia a lição de casa em poucos minutos. Comecei nesse mau caminho muito cedo, 7 anos de idade e já tendo contato com drogas, usando-as ilicitamente para agilizar a lição de matemática e poder ir brincar na rua mais cedo.

Cheguei na 8a série e foi um sonho quando finalmente a calculadora simples foi liberada no dia a dia e nas provas. Esse instrumento me acompanhou até o 3o colegial. Foi no vestibular da Fuvest que tive minha primeira crise de abstinência séria. Ali não podia usar calculadora e por alguns instantes me deu um branco numa questão quando não consegui mais fazer multiplicação com reserva. Chocante. Deu tremelique. E é claro, uma vez que você vicia numa droga, quer sempre passar para coisas mais pesadas. No meu caso, no colegial, não dava mais para se entreter com uma calculadora simples, já surgia desejos de ter uma científica. Aquelas funções trigonométricas, equações logarítmicas e etc, aquilo tudo embananava a cabeça. Mais uma vez fazia uso ilícito para resolver a lição de casa. Parti também para ações mais ousadas. Escondia a calculadora científica no banheiro e na hora da prova ia checar as questões do lado da privada, uma cola muito bem bolada.

Passei na faculdade, comecei a ter aulas do ciclo básico, aquelas matérias tipo cálculo, GA, equações diferenciais...Aí liberou geral a calculadora científica. Mas como vocês devem conhecer a história, a gente sempre quer dar um up...O passo natural seria ter uma famigerada HP, que resolve integrais, derivadas, faz gráficos e até dá os diagramas de esforços solicitantes nos exercícios de RM. Foi aí que caiu a ficha e comecei a lutar bravamente contra meu vício em calculadoras. Substituí as funções da HP por programas de computador. Fazia rotinas no matlab, modelagem matemática no maple VII e os problemas estruturais mais cabeludos eu passava pra galera dos elementos finitos resolver. Mas isso também não me isentou de surtar de vez em quando. Que nem quando passei uma noite inteira programando o maple para resolver um problema de equação diferencial parcial por LaPlace. Foi até o amanhecer queimando incenso na varanda, tomando umas 6 latas de cerveja e programando. Muito louca a experiência. Depois todo mundo queria copiar o trabalho. Os progamas de computador não eram tão pesados quanto as calculadoras, o poder alienante era menor, o que fazia meu cérebro funcionar quando estava longe deles. Mas nao deixavam de ser drogas.

Hoje posso dizer que ainda não estou curada desse vício maldito. E anos e anos usando essa droga me deixou com sequelas irreversíveis. Não consigo mais fazer cálculos mentais. Não consigo mais calcular o troco da padaria. Não me pergunte quando é 2+2. Alguns me perguntam como consigo ser engenheira sem ter competência pra fazer cálculos rotineiros. Simples, eu viajei tanto, fiquei tanto no abstrato que tiro as soluções para os problemas de maneiras não convencionais. Mas quando se fala em coisas concretas, tremo nas bases. Gente, esse é o relato sincero de uma viciada assumida em calculadoras. Cuidado com essa droga! Ela traz consequências sérias para a sua vida.

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