sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Freios, embreagens...fazendo uma fritada

Para quem não sabe, as pastilhas de freio e os discos de embreagem de veículos do dia a dia são feitos de material orgânico. Uma mistureba de resina fenólica, fibra de vidro (ou de kevlar, se o seu carro for um Audi ou um Mercedes), enxofre, fios de cobre e outras coisinhas. As formulações exatas são como um pó de pirlimpimpim que as indústrias guardam como segredo de 7 chaves. Em se tratando de material orgânico, o fator limitante de uso chama-se temperatura. E mau uso. E é isso que quero esclarecer nesse post, porque tenho presenciado fritadas e traquinagens totalmente desnecessárias em veículos do dia a dia.

A maioria dos polímeros que conheço dificilmente não sofrem degradação em temperaturas acima de 300°C. Talvez os revestimentos de embreagem e pastilhas de freio (que vou chamar aqui de materiais de fricção) resistam um pouco mais por causa da mistureba, pero no mucho... E o que acontece numa fritada? O material de fricção entra em um estado que chamamos de fading. Quando isso acontece o coeficiente de atrito entre ele e a sua contra peça (ex: disco de freio) vai a níveis próximos de zero, comprometendo completamente a segurança do sistema. Já peguei contra peças resultantes de fading e notei transformações martensíticas ali. Não vou entrar em detalhes sobre o que seja transformação martensítica. O que isso significa é que se o metal mudou de fase, é que a temperatura local ultrapassou os 700°C, agora dá pra ter noção da fritada né.Tá, alguns espertinhos podem argumentar com a mocinha aqui que o freio/embreagem voltou a funcionar depois da fritada. Ah é? Pois a mocinha responde: você perdeu em eficiência de frenagem/troca de marchas, além de diminuir a vida útil do produto. Vão aí outras atitudes que considero crequinagem ne primeira:

  • Estando em uma ladeira, socar no acelerador e soltar a embreagem com tudo. Odeio o barulho que isso faz. E odeio depois o cheiro de resina fenólica queimada. Custa achar o "ponto"?
  • Usar a embreagem como freio...Sem comentários
  • O vício irritante de triscar no pedal de freio sem necessidade. Por mais que não pareça, cada relada nesse pedal está acionando sim o sistema de frenagem, portanto gastando pastilha
  • Fazer performances exibicionistas sem estar capacitado para tal (não me usem como exemplo ahahaahah).
  • Descer na banguela. Economia de combustível...Que lindo...Só que esqueceram de falar de que mesmo quando não há transmissão de torque entre o volante do motor, caixa de engrenagens e eixos, todos esses sistemas mencionados continuam girando em inércia, porém cada um em uma frequência diferente. Ainda mais na descida, que por conta da gravidade faz com que a rotação dos eixos aumente. Aí surge a necessidade de se engrenar de novo o veículo, e o sujeito engata uma relação que não é compatível com a rotação dos eixos. Sabe o que acontece? Caixa de engrenagens, disco de embreagem, platô e outros mais explodem em pedacinhos. Pena eu não estar autorizada a publicar aqui as fotos desse circo dos horrores.
Como última informação pertinente para quem ainda não acredita em mim. Na fórmula 1 as embreagens e pastilhas de freio são feitas de carbono-carbono (matriz carbono reforçado com fibra de carbono), material que aguenta muito mais que o orgânico comum. Terminou a corrida, joga tudo fora. Ninguém quer correr o risco de passar por um fading no meio da corrida. Se lá é assim, por que não ter um mínimo de preocupação com as peças do dia a dia? Não precisa ficar trocando toda hora, mas faça a troca no prazo de validade e não force a barra para diminuir esse prazo.

Bom, como sei que o povo vai continuar a se comportar mal, fico feliz de informar que esses cretinos garantiram o meu emprego por 4 anos. Vocês financiaram a minha viagem pro Peru, as minhas maquiagens e cremes da Lancôme e a minha bike. Fica aqui minha gratidão.

2 comentários:

Carlos disse...

Excelente post e blog..

Mariana disse...

Adoreeeeeeeii! hahahahahaha
Sou uma quase engenheira mecânica que se aventura pela area de materiais e carros, achei o blog inteligentissimo, muito bem feito!
Na verdade eu o achei numa pesquisa sobre o coeficiente de atrito entre o platô e o volante de inércia. Tenho um projeto sobre judder [adoro nomes bonitos! mas até o google demorou p me contar q isso é aquela trepidadinha q o carro dá qdo tiramos o pé da embreagem muito rapidamente, sabe? =)]
to com dificuldades em achar o coeficiente de atrito e a força máxima que acopla a embreagem ao motor e se vc puder me ajudar seria muuuito bom!!! =)
Adoreei o blog!
beijos,
(se puder me ajudar, me mande um email mariana.gerardi@gmail.com q te explico certinho, tá? obrigada!!)
Mari