sexta-feira, 12 de junho de 2009

A parada gay perdeu a graça

Acho que em outra encarnação devo ter sido um vecão bem espalhafatoso, cheio das purpurinas. De tanto desmunhecar, devo ter pedido para nascer mulher na minha atual encarnação, e o pedido foi atendido. Mas mesmo sendo mulher, minha alma ainda é de vecão. Dizem que toda mulher tem um dia de travesti...bem, acho que para a que vos escreve dias de travesti não são um fato puntual, mas sim uma constante. Todos os dias são dias de travesti.

Essa introdução serve para explicar também meu fascínio pela parada gay de São Paulo. Minha primeira parada foi em 2002. Partia perto do shoping Paulista e chegava quase na praça da República, o percurso inteiro rachando o bico de tanto rir. Tinha os trios elétricos tocando "Macho Man", "I will survive", "Dancing Queen" e outros hinos bibas, era delirante. O mais legal era conhecer um monte de gays gente fina, com os quais me juntava para rebolar na avenida. E, last but not least, não era incomodada, molestada, ningém passava a mão na minha bunda, não era prensada no meio da multidão. Enfim, era muito sossegado e tranquilo, e tinha um final feliz. Mas infelizmente isso está cada vez no passado.

O evento triplicou de tamanho, virou algo gigatesco. E parece que não anda se resumindo em somente um punhado de bibas que querem se divertir e andar de mãos dadas com seus parceiros sem represálias. O público agora é majoritáriamente heterossexual, só que não são os héteros desencanados que nem eu, que só querem se divertir. É um pessoal que chega pra arrumar confusão, baixar o nível do evento. Não acreditei quando ano passado fui bolinada na parada gay. E não foi por uma lésbica. Aliás lésbicas são muito na delas, nunca sofri nenhum tipo de abordagem agressiva por parte delas, se os homens seguissem o exemplo das lésbicas ia ser muito melhor. Além desse fato lamentável, o número de participantes aumentou tanto que fica quase impossível seguir os trios elétricos sem ser prensado. É impossível soltar a franga e dançar ali. Presenciei muitas brigas também, envolvendo a polícia inclusive. E as brigas, adivinhem, eram a maioria entre marmanjos, nunca entre moças e bibas. O pior ainda estava por vir...No fim da festa tinha muita gente deitada e espalhada por toda a avenida. Só que não eram pessoas simplesmente alcoolizadas...as pessoas ali estavam completamente drogadas. Nojento.

Por essas e outras, esse ano a parada gay não vai me fazer a menor falta. Decidi viajar no feriado para Minas Gerais e não estou com a mínima dor na consciência. Enquanto a parada gay não voltar a ser como antes, o que acho difícil já que se perdeu o controle das coisas, permanece aqui a minha indiferença.

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